Mais um banco que acaba de passar para o controlo de capitais estrangeiros. Trata-se do BPI, que era dirigido por Fernando Ulrich, o banqueiro que, aquando da chegada da troika e em relação à austeridade sobre o povo português disse a memorável frase “ai aguenta, aguenta”. Afinal, ele próprio é que não aguentou e deixou a direcção do banco, agora exercida por um representante do catalão CaixaBank, o novo proprietário.O mesmo já tinha acontecido com o Crédito Predial, com o Totta, com o BPN, com o Banif e com o BCP. No caso de o Novo Banco ser vendido a investidores estrangeiros pode dizer-se que toda a banca, à excepção da Caixa Geral de Depósitos, até ver, ficará na mão de investidores estrangeiros.
Esta distribuição da banca nacional pelos grandes bancos europeus, e não só, serve para chamar a atenção da sanha destruidora que se verifica contra a Caixa Geral de Depósitos, e que se manifesta pelas mais mesquinhas formas.
As entidades financeiras internacionais sempre procuraram a privatização da CGD e para isso contavam com a anuência da direita política portuguesa.
Daí não ser de estranhar que a troika, quetão cuidadosa e perspicaz foi em relação à desvalorização do trabalho, nunca se tenha manifestado sobre todas as falcatruas cometidas pelos banqueiros, que lesaram em milhares de milhões o erário público, e que provocaram a falência de muitas empresas, com o consequente cortejo de desemprego e pobreza.
Também as escolhas para a gestão da Caixa, efectuadas pelo governo do PS, não contribuíram para melhorar a situação. Desde logo houve quem chamasse a atenção para o exagero de salários e para as exigências ilegais de António Domingues e da sua equipa, em relação à entrega de declarações de rendimentos e património, que prefiguravam uma arrogância elitista e problemática para a gestão de um banco público.
Em nome da indispensável capitalização da Caixa Geral e Depósitos, nem tudo é admissível. Há regras de procedimento que não podem e não devem ser ultrapassadas.
Mas todos sabemos que o controlo público da Caixa é essencial para que o desenvolvimento da economia tenha viabilidade e para assegurar a prossecução dos projectos governamentais. A fiabilidade da sua gestão é ainda mais indispensável.
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A OCDE- Organização para a Coordenação e Desenvolvimento Económico, é uma organização que nasceu para coordenar o apoio aos países europeus devastados pela 2ª Guerra Mundial, no seguimento do Plano Marshall, lançado pelos Estados Unidos.
O recente relatório elaborado pela OCDE sobre a situação em Portugal é bastante confuso e, ao mesmo tempo que mostra a evolução da situação da economia, reclama medidas mais gravosas, nomeadamente nas relações laborais, que pretende ainda mais permissivas nos despedimentos e horários de trabalho para além do razoável.
O secretário-geral, José Ángel Gurria, na sua visita a Portugal, para além de fazer humor pouco oportuno com o facto de ministros estarem a assistir à sua palestra, afirmando que eles teriam pouco que fazer, fez afirmações que podem ser consideradas intromissões nas questões internas do nosso país. De recordar que a OCDE não faz parte do grupo indevidamente considerado de credores.
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Uma posição não muito diferente é assumida pelas agências de rating, Moody’s e Fitch, que se manifestam mais preocupadas com o facto de o governo ser apoiado no Parlamento pelos partidos à esquerda, do que em verificar as melhorias na situação económica e social.
A Fitch realça o facto do saldo primário das contas públicas portuguesas, isto é, a diferença entre as despesas e as receitas ser positiva, da economia ter crescido acima da média europeia e da evolução favorável no défice, mas mantém o rating de Portugal no lixo.
É curioso verificar que as agências de rating, cuja função deveria ser dar informações aos investidores sobre a qualidade dos possíveis objectos de investimento, se imiscuem nas questões políticas dos diversos países, chegando a ousar tentar influenciar os respectivos governos.
Curioso igualmente é constatar o facto de, imediatamente após a venda do BPI à CaixaBank, e apesar de as acções do banco terem baixado nas bolsas, as agências de rating, nomeadamente a Fitch, ter elevada o nível de rating do banco para fora do limite de lixo. Fica claro qual é o objectivo dessas obscuras empresas de apoio à alta finança, a concentração da banca em meia dúzia de grandes entidades bancárias.
Fica claro que não é por uma obediência cega e acéfala aos interesses do capital financeiro que estas entidades sem pátria e sem rosto facilitarão a vida aos portugueses.
Também se constata que o poder democrático, a decisão soberana de um povo, o desemprego e a pobreza, não interessam para nada, é lixo!
14.02.2017