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A TAP, o aeroporto do Porto e o desprezo territorial

As intenções da TAP de reduzir drasticamente os destinos internacionais dos voos do aeroporto do Porto, quando forem retomadas as viagens aéreas, não podem deixar de merecer uma veemente condenação por parte do Bloco de Esquerda no Porto. Esta é uma decisão tomada de forma assimétrica, garantindo um peso profundamente desequilibrado desta companhia nacional em apenas uma região do país : Lisboa e Vale do Tejo. Estamos a falar de dois destinos a partir do Porto - Londres e Paris – e mais de meia centena desde Lisboa.

Tal hipótese não constitui, contudo, uma surpresa para quem tem acompanhado esta atuação que vinha a tratar o aeroporto do Porto como uma espécie de apeadeiro ao serviço do aeroporto de Lisboa, desprezando a importância regional e nacional que já serviu também a Galiza em voos internacionais e intercontinentais.

A privatização da TAP, como companhia aérea, e depois da ANA à Vinci, como gestora privada monopolista de todos os aeroportos nacionais, foram os instrumentos usados para desqualificar esta infraestrutura e pôr os interesses de empresas privadas a comandar o funcionamento diário do aeroporto do Porto. Tudo fica ainda mais claro se juntarmos a essas desastrosas escolhas políticas de governos do PS e do PSD, o empenho dos presidentes da Câmara do Porto – primeiro Rui Rio e depois Rui Moreira – em colocar a infraestrutura aeroportuária mais bem equipada de todo o noroeste peninsular, após investimentos públicos de mais de 500 milhões de euros, ao serviço de empresas low-cost.

Resultado: uma brutal diminuição de passageiros transportados pela TAP a partir do Porto. Em dez anos, a quota da TAP passou de 35% dos passageiros para apenas 20%, uma quebra superior a 40%. Por outro lado a Ryanair tem a maior quota de passageiros (35%), possuindo em conjunto com a Easyjet mais de 46% dos passageiros, mais do dobro dos transportados pela TAP, conforme os dados da Autoridade Nacional de Aviação Civil. Acresce a isto a degradação ou subaproveitamento de equipamentos pagos por dinheiros públicos, como as mangas telescópicas para entrada e saída de passageiros dos aviões, que não são utilizados pelas low-cost para não pagarem as respectivas taxas.

Ora, a política centralizadora da administração totalmente privada desta companhia aérea que é 50% pública é irresponsável e tem de ser anulada. Querer concentrar 96% dos destinos dos voos no aeroporto que o CEO da TAP, Antonoaldo Neves, considerava em Fevereiro “o pior aeroporto do mundo” parece demonstrar a vontade de querer arranjar razões para uma posterior queixa amargurada de que a Portela está congestionada e não dá resposta.

Foi também por estas razões que o Bloco de Esquerda apresentou no parlamento um projeto de lei para a nacionalização da TAP, empresa que nunca deveria ter sido privatizada e que deve estar agora ao serviço da economia portuguesa e do seu território e não de interesses privados que já deixaram clara a sua única preocupação em tempo de crise inédita: garantir lucros rápidos. Pelo contrário, a importância deste sector estratégico na retoma económica deve obedecer a outros princípios, de retoma económica, de coesão territorial e de equilíbrio e racionalidade para o país e quem cá vive. Está pois na hora de outra visão para o aeroporto do Porto.

 

O Secretariado da Comissão Coordenadora Distrital do Bloco de Esquerda Porto