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SEMANA ALUCINANTE

Mais uma vez a direita portuguesa, à falta de argumentário político sério, usa e abusa do discurso populista para se fazer ouvir.

A utilização sistemática no discurso político do drama dos incêndios, em Pedrógão Grande e localidades próximas, a fim de exigir a demissão da ministra que tutela a Administração Interna, não demonstra o mínimo de objectividade e indispensável honestidade intelectual como seria de esperar neste caso trágico.

Senão vejamos:

Quem foi responsável por levar ao extremo os cortes na despesa, que afectou também os bombeiros, desinvestindo na Protecção Civil?

Quem negociou o fornecimento de serviços do SIRESP, que já está provado, funciona mal?

Quem fez as negociatas em torno dos helicópteros que os colocaram ou fora de serviço ou fora dos locais onde poderiam ser uteis?

Quem foi responsável pelo alargamento da área florestal do eucalipto?

São questões como estas que é prioritário serem respondidas.

Entendo, que estando em andamento inquéritos, estes, sejam levados até às últimas consequências e não se arrastem por práticas dilatórias, que tão bem têm servido ao descrédito desta forma de investigação.

As tão histriónicas, como demagogicamente populistas, intervenções de Assunção Cristas, com tiradas a rasar o tique arruaceiro de Nuno Melo, de Paulo Rangel ou de Marinho Pinto, acompanhadas dos traumas não ultrapassados de Passos Coelho, constituem uma espécie de prova de vida para quem não tendo argumentos políticos, anuiu cegamente a tudo durante o governo anterior.

Não quero com isto desresponsabilizar o actual governo do PS, que deveria ter tomado mais medidas para alterar a situação que herdou, nomeadamente, rejeitando a legislação de Cristas que alargou a área de eucaliptação, e não procurando dotar a floresta de melhores condições para a prevenção de fogos, como seja a criação de aceiros e a plantação de folhosas.

Por outro lado, é indesculpável o facto do governo PS ter impedido a proposta de nacionalização da rede de comunicações SIRESP, que não se entende que continue a ser um chorudo negócio privado, numa área tão sensível como são as comunicações de emergência.

Lançar culpas sobre tudo e todos, antes de conhecer o resultado dos inquéritos, parece-me um tanto despropositado, apressado e até infantil. Importante é tentar dar resposta imediata aos problemas das pessoas e criar condições para que não voltem a repetir-se  tais tragédias.

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Quanto ao roubo de material de guerra nos paióis de Tancos estão a decorrer investigações por parte do Ministério Público, da justiça militar, passando pela Unidade Nacional contra o Terrorismo da Policia Judiciária.

Espera-se que alguma coisa seja tornada pública, contrariamente a anteriores ocorrências do mesmo género que foram cuidadosamente ocultadas. Por isso, não tivemos a oportunidade de ouvir declarações inflamadas de oficiais na reserva. Estes senhores, que são constantemente levados a confundir solidariedade de grupo com desculpabilização de pares, como ainda recentemente se verificou com o caso dos responsáveis pela instrução de comandos. Bem podem continuar com pedidos de demissão, pois estes não acarretam perdas, porque têm o salário garantido.

Começam a surgir noticias, provavelmente fruto das costumeiras fugas de informação, das investigações que falam na possibilidade dos implicados no roubo serem militares que integraram missões no estrangeiro e que agora serão mercenários ao serviço de grupos de guerrilheiros e de traficantes. Tudo isto é gravíssimo e por isso todos os fios da teia deverão ser cuidadosamente investigados, doa a quem doer.

Um golpe de mão deste género é dificilmente explicável sem conivências internas.

De acordo com as declarações do Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas, dificilmente o Ministro poderá ser considerado responsável pelo funcionamento de rondas ou de sistemas de guarda dos paióis.

Apesar das evidências, há reacções de militares responsáveis que mostram total incompreensão pelo seu estatuto num regime democrático, pois em democracia as forças armadas devem estar ao serviço dos interesses do país e que a sua definição cabe aos órgãos políticos, democraticamente eleitos.

Não é possível continuar a encarar a instituição militar como um estado dentro do Estado, uma casta, acima de tudo e de todos, mas como um órgão de segurança e de defesa do Estado democrático, sujeitos às contingências financeiras, como os outros cidadãos e instituições.

 Soa estranho que neste ping-pong de responsabilizações e de “defesa da honra” por alguns elementos das Forças Armadas, as mesmas, não tenham dado qualquer palavra sobre o escândalo envolvendo o fornecimento de produtos alimentares e outros.

A dirigente do CDS, Assunção Cristas, na sua sanha por demissões parece mais interessada na sua vingança mesquinha contra o ex-militante do CDS, Azeredo Lopes, do que pelo bom funcionamento do Ministério da Defesa.

Aproveitar todos estes funestos acontecimentos para tirar dividendos políticos parece-me revelar muito de quem os usa e abusa. Para mim é uma atitude democraticamente inaceitável.

12.07.2017