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O BE e o EURO

O Bloco de Esquerda tem tido, desde sempre, uma posição perfeitamente clara acerca da relação de Portugal com o Euro e das consequências que advêm do facto de a União Europeia ter criado uma moeda de forma apressada, beneficiando exclusivamente com isso os países ricos do centro da Europa.

Após a criação da moeda única, o Euro, e os tratados que entretanto alteraram a filosofia da União Europeia e a solidariedade entre os países, só resta da versão inicial a defesa dos interesses da alta finança, contradizendo os propósitos que lhe deram origem.

Com a crise financeira decorrente da falência de grandes bancos americanos, como o Lehman Brothers, os governos dos países do Sul da Europa, apelidados de forma mais ou penos pejorativa de PIGS, sofreram pressões inadmissíveis para imporem aos seus povos políticos violentos de austeridade em apoio aos bancos nacionais, envolvidos na crise.

O pretexto usado até à exaustão, pelo anterior governo de direita, foi o de que tínhamos vivido acima das nossas possibilidades, portanto, era agora tempo de pagar. Ora, a verdadeira razão tem a ver com as negociatas fraudulentas dos banqueiros e as fugas, para offshores, de muitos milhões de euros.

O Bloco manifestava, então, o seu europeísmo de esquerda e a necessidade de colaboração e solidariedade entre os povos da Europa, quando outros em Portugal, eram eurocépticos

Mas a União Europeia mostrou a sua verdadeira face com a maneira como levou o povo grego à falência com a maior prepotência e sem pingo de solidariedade. As metas impostas pelo Eurogrupo à Grécia foram absolutamente irrealistas, como se tem comprovado.    

Em Portugal, o governo PSD/CDS limitava-se a aplicar as ordens vindas da Alemanha, via Bruxelas, provocando o empobrecimento geral do povo e a perda do valor do trabalho.                                                                                                                                                       

Com as eleições legislativas de 2015 a situação política em Portugal alterou-se e nisso fizemos a nossa parte ao apoiar no parlamento a possibilidade de formação de um governo minoritário do PS.

Nunca fizemos segredo do que pensamos sobre a moeda única e sobre a atitude dos países ricos do centro da Europa. Nunca alinhamos na atitude acrítica e subserviente de aceitação de todos os ditames da Europa. Nunca propusemos uma saída apressada e sem preparação da moeda única, porque temos consciência plena das dificuldades que uma saída atabalhoada acarretaria à nossa frágil economia. Ora, as propostas que surgem de uma Europa a várias velocidades comporta o risco de Portugal e outros países de economia mais débil se verem escorraçados da União por não poderem acompanhar a velocidade imposta. Nesse caso, por certo, seriamos seriamente penalizados.

Daí que, debater com seriedade esta questão é muito importante e nada tem a ver com atitudes antieuropeias, como temos ouvido dizer, mas com a necessidade de preparar as condições para as alternativas que se colocarem. A realidade está a desencadear-se aos nossos olhos, independentemente de haver quem prefira enfiar a cabeça na areia.

A solução não passa por posicionamentos do tipo: “queremos permanecer no pelotão da frente”, porque essa posição não é compaginável com a permanente arrogância manifestada pelos países que têm ganho milhões com os juros dos resgates das dívidas dos países mais pobres.

Há um argumento que é irrefutável para que este debate se estabeleça. A divida publica portuguesa é impossível de pagar nas actuais circunstancias e isto é já reconhecido por muitos economistas do nosso país e internacionais.

Como a divida e o pagamento dos juros constitui o maior entrave ao financiamento da economia, só com a sua renegociação em termos de valores e de prazos se pode resolver o problema. Cabe-nos encontrar solução para viabilizar o país e não deixar a situação para os vindouros.

Com toda a verdade e clareza, temos de encarar a possibilidade de o país ter de sair do euro, ou mesmo de a moeda única deixar de existir. Para isso teremos que estar preparados e por isso, devemos debater a questão de forma a envolver os cidadãos portugueses numa resolução que a eles diz respeito.

Bem sabemos que o pensamento dominante, apoiado em poderosas campanhas de desinformação, procura enformar o entendimento dos cidadãos no sentido de que não há alternativa, mas este argumento não é novo e hoje até sabemos que não é verdadeiro.

As soluções não são fáceis, mas devem ser cuidadosamente pesadas.

Em Democracia há sempre alternativas, assim o povo o decida.

18.04.2017