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NÃO VALE TUDO

A Caixa Geral de Depósitos, o banco público português, continua a ser notícia e não pelas melhores razões.

Há dias veio a público a informação de que seria constituída uma Comissão de Remunerações destinada a propor a baixa dos salários e preparar o despedimento de mais de 1.600 trabalhadores bem como os aumentos nas comissões cobradas aos clientes.

O mais estranho é que esta comissão, composta por 3 membros, irá auferir cerca de 155.000 euros por ano. O indigitado presidente, Ferreira de Oliveira que vem da Galp vai ganhar 5.500 euros por cada reunião.

Estas personalidades que prestam serviços na Caixa Geral de Depósitos são todos especialistas altamente bem pagos, embora o serviço prestado pelo banco nem sempre corresponda à qualidade dos salários auferidos pelas direcções.

As preocupações de poupança afirmadas publicamente como razões para o encerramento de balcões da Caixa em vilas e cidades do interior do país não se entendem bem quando são acompanhados de notícias destas.

A gestão da Caixa é independente do aparelho do Estado, mas o Estado enquanto único investidor, deve ter uma palavra a dizer nas decisões, nomeadamente nas que podem afectar o serviço público. Haja decoro! Chega de mentiras! Não pode valer tudo.

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Os problemas causados pela aquisição da Portugal Telecom, (PT), pela Altice continuam, nomeadamente com o desmembramento da PT noutras empresas do Grupo Altice, para as quais são encaminhados os trabalhadores, alguns com muitos anos de casa e a quem são retirados os direitos adquiridos os quais terminam ao fim de um ano de trabalho na nova empresa.

Esta falta de respeito pela legislação do trabalho não pode causar admiração vindo de uma empresa cujo dirigente máximo declara que o que mais lhe custa é pagar salários.

Os trabalhadores que o Grupo Altice considera dispensáveis sofrem pressões inadmissíveis para se demitirem, sendo obrigados a permanecer isolados, sem funções atribuídas, até cederem. Este assédio no trabalho resultou com alguns trabalhadores que não conseguiram resistir a esta pressão.

A denúncia destes acontecimentos levou a que a Autoridade para as Condições de Trabalho, ACT, encontrasse na empresa mais de uma centena de situações de atropelos laborais, desde assédio no posto de trabalho até transferências ilegais de trabalhadores para outras empresas do Grupo Altice. Daqui resulta a possibilidade de serem lançadas coimas contra o Grupo Altice, no valor de cerca de um milhão de euros

O governo propõe-se alterar a legislação laboral para evitar que casos destes se voltem a repetir, no entanto, ainda não se pronunciou sobre este caso concreto, embora o primeiro-ministro, António Costa, tenha criticado a atitude da empresa.

Contrariamente, Pedro Passos Coelho tem vindo a afirmar que a actuação do governo é contra os interesses da empresa que deveriam ser resguardados. Convém não esquecer que foi o governo PSD/CDS que facilitou a venda da PT ao Grupo Altice.

Os direitos dos trabalhadores devem ser objecto da maior atenção e as penalizações de quem ousa atropela-los devem ser de tal modo exemplares que inibam outros empresários a cometer as mesmas fugas às leis laborais.

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Aproveitando a campanha eleitoral, Passos Coelho continua a fazer declarações com a desfaçatez a que habituou os portugueses.

Para além das atoardas sobre vítimas de suicídios nos fogos florestais do centro do país, vem agora lançar as suas insidiosas suspeitas sobre o destino de muitos milhões de euros recebidos para auxiliar as vítimas esquecendo-se de dizer que uma parte substancial desses fundos foi entregue à Misericórdia de Pedrógão Grande, dirigida por um militante do PSD, e que dos 14 milhões, o Estado apenas gere menos de três milhões de euros, através do Fyndo Revita.

Esquece que as suas palavras poderiam causar alarme social se os portugueses não se tivessem já apercebido que muitas vezes não passam de infundados boatos, quando não de descaradas mentiras.

Por exemplo, nos últimos dias tem vindo a dizer que a economia do país não está a crescer a ritmo suficiente, quando todos sabemos que o crescimento da economia bateu no fundo durante a sua governação.

As alegadas denúncias que faz sobre alegadas apresentações eleitoralistas de legislação nas vésperas das eleições autárquicas só nos podem recordar os estranhos negócios efectuados dias antes de o governo PSD/CDS cair, como por exemplo, a venda da empresa de diamantes de Angola.

Convinha que tivessem presente que a velha teoria de extrema-direita que dizia que era necessário “mentir, mentir, mentir sempre que da mentira alguma coisa fica” já não faz muito sentido. Num mundo de informação global e de acesso fácil à internet é difícil esconder muito tempo as falsas notícias.

12.09.2017